Muitos
conhecimentos da vida do sertão e da natureza que meu avô sabia, ele ensinou a
minha mãe. Ele ensinou e mostrou a vida das abelhas, o nome e seu habitat. Hoje
ela comenta que: “Um exemplo a Tataira é preta e valente, fica em tronco oco de
árvore geralmente seca de Aroeira, mel é desgostoso, grosso e branco. (Local
Borracha)
A
Boca de Limão- fica nas folhas da Oiticica, o mel é azedo, branco, fino e pouco
apreciado. As abelhas são mansas e miudinhas.
O
Sanharão, são abelhas pretas e valentes, fica no oco das árvores. O mel e
grosso e tem sabor bom. A cor é cor de mel.
Canuto
eram vermelhos, pequenos e não valentes. O mel é branco, fino e desgostoso. A
colmeia era no lado externo das árvores, o tamanho da colmeia era de 15 cm, era
de barro vermelho.
Curupira-
era no oco das árvores, produzia muitos litros de mel. As abelhas eram
vermelhas e valentes. O mel era desgostoso, amarelo claro e fino.
Jandaira
- era no oco das árvores, produzia muitos litros de mel medicinal, gostoso,
branco e fino. As abelhas eram pretas e valentes.
Moça
branca – mel pregado nas árvores (carnaubeiras), mel pouco e sem gosto. (só
aquela plastrada). As abelhas eram mansas e pequenas.
Enxu-
a colmeia era a redor das arvores (como um cupinzeiro), era uma capa de mel,
doce e bom (quase açucarado). Às vezes tinha três metros. As abelhas são
valentes, pretas e gostam da flor de angico. (a maioria das capas são
açucaradas).
Jati-
mel medicional serve para dor de ouvido (meu avô colhia e levava para as mães
para as crianças, ele nunca colhia todo para preservar para elas não se
afugentarem). Era encontrado no oco das árvores, o gosto suave, bom e o mel
fino e branco. As abelhas são mansas, pequenas e branquinhas.
Capucho
– debaixo da terra(tem preferencia por formigueiros abandonados) as abelhas são
valente, roçadeiras e pretas. O mel é feito debaixo do chão e alastra-se.(eram
tidas como ante higiênicas e o povo tocava fogo)
Mosquitinho
da praia – Pequenos e brancos(asas brancas) tinha preferência por folhas de
oiticica, onde grudavam o mel.eram mansos,dava pouco mel que não prestava para
nada.
Tubiba
– abelhas pretas (pareciam uns besouros) e valentes. Mel escuro, quase preto e
ruim. Feito no oco das arvores, solto.
Eram fabricados muito mel.
Uruçu
– Mel doce.
Mandassaia
– capas e mais capas ao redor das arvores (como se a árvore tivesse saia).
(estava em extinção ). Muito difícil. Abelhas mansas, vermelhas, faziam muita zoada e o mel era amarelo
queimado com o gosto mais ou menos.
Estes eram os conhecimentos que meu avô passou para minha mãe, que ele
adquiria observando as matas do sertão”.
Ela afirma também que “Todo este acontecimento
era na fazenda Aroeira, onde éramos moradores”.
Minha
mãe diz que uma vez ela e minha avó foram visitar uma senhora que tinha ganhado nenê,
ela estava bastante doente, eu que a vi em um estado muito ruim, mesmo não
entendendo o que se passava com ela, meu eu de enfermeira, que estava dentro de
mim, queria fazer um chá de folha de laranjeira para vê-la melhor, eu não entendia
porque as pessoas não conseguiam resolver o caso dela.
Ela
recorda-se também que quando estava próximo a chuvas fortes, o Serrotinho
estrondava que de longe se escutava e todo mundo sabia que ia ter chuva de
vento, tais chuvas vinham com ventos tão fortes que derrubava algumas casas que
fosse mais frágil. Neste momento as mulheres começavam os benditos e jogavam um
copo de água ao vento isso abrandava o vento e começavam a cantar “virgem do rosário abrandai o vento que ele
vem tão brabo pela porta a dentro”. As encelências, os benditos e as novenas
eram situações próprias do sertão. Ela sempre ajudava a tirar as novenas, de
são José, do mês de maio, as de junho e outras tantas que houvesse, porque já
sabia lê.
Meu avô
conforme afirma minha mãe não se acostumou à vida de plantar, apesar de
termos um roçado plantado em terras alheias e por conhecidos nosso, os pés e
mãos de meu pai, lembro-me como se fosse hoje, parecia algodão.
Certa
vez em época de enchente, eles víamos as
mulheres com as crianças do outro lado do rio Umari, elas estavam sem leite
para as crianças. Ela conta que” Meu pai resolveu levar o leite para o outro
lado. Colocaram uma rudia na cabeça dele com o pote de leite e ele foi
atravessando o rio, nadando a pé, o rio não era muito largo, porém era muito
profundo, devido às chuvas o rio estava com uma correnteza muito forte. Foi
difícil a travessia, os troncos de arvores derrubadas passavam por ele, que
tentava se desviar dos mesmos, quando meu pai terminou a travessia estava bem
longe. Muitas pessoas vieram receber o leite e ele, o mesmo estava bastante
cansado. Enquanto ele estava nesta luta, eu e minha mãe ficamos na outra margem
do rio rezando. Eu sentia orgulho e medo por aquela atitude de meu pai. Ao
chegar lá, víamos a alegria das mulheres e nossa por tudo ter saído em paz. E
claro que ele não voltou no mesmo dia esperou a mareta se acalmar e recuperar
as forças e voltou”.
Entre
os episódios que merecem ser mencionados está, a lembrança de Bibia (Maria
Pereira) cuidando de uns homens conhecidos nosso que havia sofrido uma facada no pescoço e no ventre. Em casa ela
colocou o intestino do homem no lugar,
chamou mãe Joaninha para costurar, padrinho
Raimundo veio fazer uma oração para estancar o sangue, foi feito uns
unguentos e depois de anos de cuidado o ferimento cicatrizou e todo voltou ao
normal, este mesmo procedimento foi feito com o homem com o ferimento no
pescoço, Eles ficaram deitado em folhas de bananeira para não se ferir, devido
o longo tempo de tratamento. Cuidados, fé e perseverança, abaixo de Deus
recuperaram a vida daqueles homens. Todos ajudaram trazendo cascas de arvores e
remédios caseiros para ajuda-los a se recuperar.
Lembro-me
que todo mundo falava de tio Nezinho que deixava, na segunda feira, mãe
Joaninha, acorrentada, enquanto ele ia para feira do Gavião (atual Umarizal),
mas na casa dela não faltava nada, ela nunca reclamou de tal situação, parecia
uma santa, recordo-me que certa vez uma das funcionarias dela estava para
ganhar criança e por conhecidência foi a uma segunda feira, arrumaram as coisas
da parturiente ali perto dela na sala e ela fez o parto, pois era parteira,
quando ele chegou ela comunicou que a mãe e a criança estavam na cama dela, mas
ele ao contrario do que se pensou nada reclamou. A única mulher que ela não conseguiu atender
a tempo foi à filha dela, quando vieram avisar, que ela ia saindo para fazer o
parto, ela disse, ”já não precisa mais, pois ela sentiu que ela já estava
morta” e assim foi.
No
dia da morte dele, ele saiu para caçar e sentiu-se mal e morreu. O lugar onde
ele morreu dava para avistar lá de casa.
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