Comentário
de minha mãe: “Um povo trabalhador vivia praticamente do plantio e corte de
palha. Foi na Mariana que aprendi a bater e trançar palha para fazer ticum, bolsas, chapéu... Lá
moramos na casa de Tio Nestor, uma casa a poucos metros da Lagoa da Porta, onde
ancoravam as canoas. A noite
pescávamos, quase sempre piranha. A carne era muito ruim”.
Ela comenta ainda o seguinte: “Aconteceram
muitos fatos importantes que tenho bem guardado em minha memoria. Em tempos de
inverno a Lagoa da Mariana é um prodígio para todos os habitantes, suas aguas
abundantes abaixo de Deus traz fartura para todas as terras mais baixas
próximas a lagoa é inundada o seu limo, beneficia o plantio de vazantes. Em
certo dia, lembro-me que eu e Dada saímos para ir comprar açúcar do outro lado
da lagoa, saímos de canoa, quando chegou a certa distancia uma estaca de uma
cerca encoberta pela água penetrou na canoa e perfurou-a, apesar de tirarmos a
água com o coité, não adiantou, ficamos bastante aflitas e começamos a gritar,
colocamos um pano vermelho um sinal de alerta, um homem conhecido nosso (seu
Mandú )viram e vieram nos ajudar, terminou tudo em paz”.
“Por
este tempo fiz minha primeira comunhão na Capela da Ursulina(Capela de Nossa
Senhora da Conceição), em 6 de Novembro de 1941”.
Em
outro momento, minha mãe disse que ela e
Dada foram atravessar a lagoa, em tempo de seca, atravessamos a pé, ao
retornamos começou a escurecer e o dia se tornou em noite, era o eclipse, mas como
elas não sabíamos, ficaram muito
aflitas. Nisso os familiares das mesmas vieram ao encontro delas. Seu Pedro Câmara comunicou a eles que se tratava de um eclipse
total solar, mais especificamente um transito de mercúrio no disco do sol. Seu
Pedro mostrou a minha mãe a revista “O Cruzeiro”, que trazia esta
noticia, ele muitas vezes emprestou esta
revista a minha mãe para ela lê, pois
ele via que mãe tinha interesse pela leitura e recomendava cuidado no manuseio
da revista. Esta revista noticiava os rumos da guerra. Minha mãe se orgulhava
em dizer que já sabia lê e ficava bastante atenta para sabe quando ia
terminar este tormento. Ela fala que: “ As consequências para nós deste
desastroso episodio era a angustia de saber das inúmeras mortes é claro, mas a
falta de alguns itens, como o querosene, que deixou de ser fornecido, para
vermos nossas casas iluminadas fazíamos vela de cera de carnaúba, e no terreiro
uma fogueira. A guerra e a seca só não nos afligiam de modo desastroso, pois
ainda restava um pouco de água na lagoa e pássaros, que chamávamos arapapá,
vinham para próximo à lagoa, os mesmos serviam de alimento para muita gente, eu
os via como as cordonizes bíblicas”. Minha mãe fala que: “Muitas meninas do meu
tempo quase não percebiam estes acontecimentos, mas eu como sempre quis saber
das coisa necessárias ficava ouvindo atenta a conversa do povo que tinha
conhecimento para aprender”.
Escuto a muito tempo minha mãe comentar o
seguinte: “Recordo-me também dos homens fazendo cacimba com 14 degraus em
espiral, para encontrar água potável muito boa. Depois de pronta uma mulher
ficava lá embaixo enchendo as vasilhas para o povo que esperava a água lá em
cima”.
Ela comenta ainda que: “Mesmo com a seca não
faltava arroz, já que o povo aproveitava a terra ainda molhada e o pouco de
água da lagoa para o plantio do arroz. Acompanhava a seca do rio,
transplantando o arroz para mais próximo da água e assim aguentavam até a
colheita. Era muito trabalho mais, isso não era problema para aquele povo trabalhador.
Eles sabiam que se fizessem regos para a água correr, esta poderia perde-se
e muito do pouco de água que ainda
restava”.
Minha mãe diz que: “Nesta comunidade moramos
na casa de Tio Nestor e na casa de Candido de Braz. Ai recomecei a estudar pois
dona Cisinha, abriu uma escola na casa
dela. Minha professora era Francisca Diassis Câmara (Cisinha)”
Outra
afirmação de minha mãe é que “A última brincadeira que me lembro, antes de sair
para Borracha, foi o casamento de minha boneca com o boneco de Dada. O padre
que celebrou o casamento foi o boneco de Macrina, padre Ranilson.
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