Minha
mãe fala que viveu pouco tempo com a mãe dela, mas o bastante para conhecê-la e
ama-la. Segundo minha mãe, minha avó era uma mulher clara, cabelos longos e
lisos, um pouco vaidosa, bonita apesar de não ser magra e que não media forças
para o trabalho. Uma excelente costureira costurava uniformes de casamento.
Criada por madrinha Paula, esposa de
João Viana (tio de minha mãe), que não
admitia que filha dela estudasse( madrinha Paula era assim, mas tinha um poder
de oração enorme tanto que todas as pessoas que perdesse um animal e não
conseguisse encontrar vinha ate ela e onde ela conseguisse ver o animal podia
ir que estava lá, vivo, morto ou roubado), mas mesmo assim minha avó não
obedeceu e aprendeu a ler. Minha mãe relata que quando ela era pequenina a mãe
dela (dona Francisca Viana) mostrava a cartilha feita à mão com a letra do ilustríssimos mestre Quinho (Francisco Quinho
de Melo), cuja caligrafia era impecável, minha mãe comenta que as palavras em
letras roxas eram em ordem alfabética, albor, brinde, culto, dragão, elmo... Eram palavras dissílabas. ”Eu sempre fui
muito curiosa e cuidadosa para adquirir conhecimentos bons” eu aprendi a
soletrar minhas primeiras palavras com a ajuda de minha mãe através desta
cartilha.
Ela lembra que em certa ocasião estava brincando
no quintal, quando viu um pintinho querendo nascer, como demorava em quebrar o
ovo tentou ajuda-lo, danificou a perninha dela e ficou sendo chamada de
chosinha pela perninha que mancava”. Entendeu que tudo tem seu tempo. Assim ela
fala: “Recordo-me quando ainda morávamos na Aroeira fizemos um barreiro próximo
a casa (era costume fazer um barreiro para aproveitar a água para aguar o
terreiro), ouvindo os sons dos sapos resolveu observar como eles nasciam,
trouxe espuma do sapo para casa, mas minha mãe quando descobriu ,mandou-me
devolve-los dizendo que a casa iria ficar cheia de sapos”.
Ela contou-me ainda o seguinte “Neste tempo
minha mãe me dava à cartilha dela para aprender a ler nós morávamos na fazenda
Aroeira. Lembro-me que a cartilha era costurada e por intermédio de minha mãe
que aprendi as primeiras noções de escrita (com letra de mão). Quando padrinho
Raimundo casou, dona Rufina Eliza de Oliveira (a esposa dele) passou a ser a primeira professora de minha mãe, conforme ela
mesma comenta, maravilhosa mestra, tinha muito gosto de lecionar, primeiramente
ela ensinava na nossa casa, pois quando eles casaram vieram morar lá em casa,
ela sempre estava atenta a novas metodologias para ensinar na hora que deveria
ser o recreio, como a maioria de nós não tínhamos recursos, ela ficava
brincando e nos ensinando a dançar, era como se fosse um exercício físico e muitas vezes uma dinâmica para a
aula ficar mais atrativa, mas ela também usava a palmatoria se precisasse. Os
alunos dela eram: eu, os dois filhos dela (Evangelista e Francisca), Joanita,
Estelita e seu nane. Seu Raimundo da Aroeira trouxe 6 cartas de ABC, Landelino
Rocha. Ele explicou que era a nova Nomenclatura, a Escola era “Escola
particular de Instrução da Fazenda Aroeira”. Mais tarde eles se mudaram lá para
Propriedade de João Boagua no Salgadinho, lá dona Rufina
Ensinava em uma latada na casa dela, muitas
crianças vinham para ela ensinar, ela que também era muito pobre, buscava papel
de embrulho, nas bodegas ou com pessoas que doasse juntamente com padrinho
Raimundo eles cortavam o papel em forma de caderno, costuravam e traçavam para
distribuir com as crianças que não tinham condições de comprar caderno,
conseguia também o lápis grafite com a recomendação de poupa-lo para dar por
muito tempo. “A precariedade era enorme, mas não maior que o amor à instrução
das pessoas que apareciam para aprender a ler, os filhos de seu João Boagua,
ele pagava”.
Minha mãe comenta ainda que com a mudança de
Padrinho Raimundo para o Salgadinho, (lugar onde o chão era tão branco que não
era possível sair um horário de sol quente, pois o reflexo do sol no chão
encandeava a visão). Ficou estudando com dona Mimosa mulher de Seu Hermano Mota, na Cacimba do Meio, muito
longe, mãe diz que a mãe dela ia com ela
e que só estudou um mês, pois pois a mãe dela se atrasava nos afazeres, esperando ela.
Depois ela foi estudar com Raimunda Neves Bandeira (Dica Bandeira)
(filha de Tia Francisca Bandeira) ela , seu Nani e Joanita, a escola funcionava
na casa de tio João Bandeira. “Escola Particular do Sítio Borracha” Eles atravessamos o rio a pé enxuto para estudar
lá. Quando chegou lá na Escola , ela já sabia ler e ia para lousa. Havia crianças e
adultos estudando.
Outra
lembrança é que havia um rebanho de gado próximo de casa onde eles moravam e que um dia um bezerro morreu e o rebanho se pôs a
chorar, ela ficou muito angustiada e perguntou a mãe dela o que era, ela me explicou que o gado é o
único animal que sabe quando está próximo da morte e que quando um deles morre
eles choram, eu fui lá olhar e realmente corria dos olhos deles grossas
lagrimas e ouvia-se um grande alarido.
Certo
dia meu meu avô foi buscar uma jandaira. Ela comenta que (foi com ele que eu fiquei conhecendo
diversos tipos de abelhas e seus habitat), ela foi com ele, enquanto ele terminava de arrumar as
coisas para irem para casa, ela comeu o samburá e bebeu água, ficou sonolenta, o
pai dela teve que me carrega-la para
casa, ele havia dito que se comesse o
saburá não bebesse água, pois ficaria sonolenta, mas é impossível comer saburá
sem beber água. (SABURÁ CAIXINHA ONDE FICA O MEL)
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